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domingo, 19 de outubro de 2014

O peso que não era meu

VII - Do pseudo alívio, que não pode ser pesado na balança

O alívio fez morada em meu coração, e percebi que ele não consiste no quê eu coloco pra dentro, e sim no quê escolhi deixar de fora. Falo por mim quando afirmo que estou bem melhor agora, parei de tentar entender as pessoas e deixei pra lá, deixei ir, abandonei o que não valia a pena.

Minha arma foi o silêncio. E nele coube o mais alto grito que eu poderia dar. Foi como se eu sentisse minha alma liberta. Tenho de volta, só pra mim, meu amor incompreendido, negado, rejeitado, humilhado. Uma hora, creio eu, as pessoas vão cansar de fazer meus sentimentos se cansar. Tanta gente já desistiu, sem ao menos tentar. Porque não deve estar demodê -assim como essa palavra- ser romântica à moda antiga. É proibido se preocupar. Percebi há tempos que é esse egoísmo que empodrece o coração. 

Me livrei de um ser, de uma simplicidade mascarada, um desejo infindável de vingança, como se fosse uma 'inocência' camuflada de malandragem. E resolveu, de uma hora pra outra, não me amar mais e pronto? Isso é querer saciar a sede do próprio ego, mesmo que isso implique em passar por cima dos sentimentos, achar que estar magoando o outro e mentir, sobretudo, para si mesmo. Tudo isso pra quê? Pra se sentir melhor? Superior? Machão? De uma linhagem humana acima das outras? 

Uma vez li em algum lugar que nunca devemos ter medo de parecer que estamos por baixo, pois alguns tesouros não podem ser vistos da superfície.

O abraço que pra mim era como um abrigo, se transformou numa jaula. Teu olhar já não me preenchia o vazio. As palavras se perdiam em sarcasmo. Eu procurei a resposta em todos os lugares. Já não me adiantariam os livros de autoajuda.

Você me disse para procurar um psiquiatra ao invés do centro espírita. Mal podes compreender que o que denominas de meu mal, não é deste mundo. Eu devo é ser mesmo Amostra grátis de remédio pra gente doida, por isso que atraí você.

Porque o meu problema é a sobra, é o muito, é o pouco. É o tecido adiposo. É o cabelo preto demais. Ou o óculos grosso demais. É pobre demais.
Ou seriam desculpas demais?
Há cada vez mais espaço. E eu já não cabia naquele aperto, estou adorando me esticar todinha.
Só precisei parar de pedir e deixar o pé ir.

Todos os dias vivo me preparando para uma nova 'luta', muitas vezes mais internas, às vezes perco (na maioria delas...), às vezes triunfo. Mas quem não tem coragem, vive de desculpas. Eu vivo esperando poder viver num mundo onde as coisas possam se encaixar em seu devido lugar.

Mas eu ainda tenho um órgão que pulsa, um órgão que ama. Eu ainda posso amar, eu ainda vou amar. Como bem disse Drummond: "eu tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo". Dentro de mim é uma eterna tempestade que parece nunca ter fim.

No fundo eu já sabia, que novamente isso ia acontecer. 

Só me resta apenas escrever, escrever, escrever. Lamentos de romance que nunca existiu. Só queria saber qualé o caminho do meu destino.